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Histórias da Casa Branca: Entre Washington e Chicago
Presidente Obama em Washington e candidato Barack, parte II, em Chicago: a partir de Abril, haverá duas frentes na gestão política do 44º Presidente dos EUA, rumo à reeleição
Entre Washington e Chicago
Por Germano Almeida
A menos de um ano do arranque das primárias (será no Iowa, a 6 de Fevereiro de 2012), a corrida às presidenciais norte-americanas, na prática, já começou. Do lado republicano, os dados ainda estão muito baralhados para que se perceba verdadeiramente qual será o jogo – e esse é o tema do próximo texto desta rubrica.
Mas no campo democrata a dúvida não é, sequer, realista: mesmo que apareça um ou outro ‘outsider’ (talvez proveniente da ala mais à esquerda, que se diz «desiludida» com a actual administração) a desafiar a nomeação de Obama, a verdade é que ninguém acredita que a escolha dos democratas não recaia na investidura de Barack como candidato à reeleição.
Nas últimas semanas, começou a notar-se uma certa bifurcação nas frentes estratégicas de Barack Obama: em Washington, é, cada vez mais, um Presidente conciliador a tentar estabelecer consensos num Congresso de poder partilhado pelos dois partidos do sistema; em Chicago, longe da «bolha do poder» que condiciona D.C., vão-se juntando as peças para que o candidato Barack volte a fazer uma campanha eleitoral vencedora, em 2012.
Hillary ou Joe?
O mais provável é que o ticket democrata para 2012 seja uma repetição da dupla vencedora de 2008 (Barack Obama/Joe Biden) – ainda que na questão do vice-presidente as certezas já não sejam tantas.
Há uns meses, chegou a correr em Washington o rumor de que as já lendárias gaffes de Biden (um ‘vice’ pouco convencional, pela quantidade de vezes em que já esteve ‘off message’ com a estratégia do Presidente) poderiam comprometer-lhe um segundo mandato como número dois de Obama na Casa Branca.
Esta teoria apontava a hipótese de que Barack estaria a ponderar escolher Hillary Clinton para a vice-presidência no segundo mandato.
O estilo conciliador e estável de Obama não parece bater certo com este cenário. E a verdade é que Joe Biden oferece a Barack uma complementaridade em certas zonas da América onde o actual Presidente poderá apresentar fragilidades, na eleição de 2012 – nomeadamente em alguns estados do Midwest que conseguiu arrecadar em 2008 e que, de acordo com os últimos estudos, poderão vir a ser disputados pelo opositor republicano (sobretudo se o nomeado for Mitt Romney).
Mas a hipótese de um ‘dream ticket’ Obama/Hillary, tão badalada no final das primárias de 2008, não estará completamente afastada. Por um lado, são fundadas as indicações que referem como possível que Hillary não esteja interessada num segundo mandato como secretária de Estado.
E a forma que Obama teria de manter a actual chefe da diplomacia na sua administração seria a de lhe oferecer a vice-presidência ou, eventualmente, a Defesa – outra pasta que estará em aberto, perante a saída, mais do que provável, de Robert Gates.
Regressar a Chicago
O anúncio oficial da recandidatura de Obama só deverá acontecer lá para Abril. Mas nos últimos meses as movimentações são muito claras: as peças mais importantes dos FOB (‘Friends of Barack’) já estão na rota de uma segunda campanha presidencial.
Primeiro foi David Axelrod, o conselheiro em quem Obama mais confia há vários anos – e que trocou o posto na Casa Branca pelo regresso a Chicago, para começar a preparar a recandidatura. Seguiram-se outras figuras próximas de Barack, como Jim Messina, Anita Dunn, Julianna Smoot ou, mais recentemente, Robert Gibbs, que foi porta-voz da Casa Branca durante dois anos e cedeu o cargo, há poucos dias, a Jay Carney, antigo chefe da secção de Washington da revista Time.
Katie Hogan, que assessorou Obama na fase decisiva da campanha e nos primeiros anos do mandato presidencial, também abandonou a Casa Branca há poucos dias, alegadamente para «descansar uns meses» -- e não será de admirar que o retiro de Katie termine bem a tempo de voltar a participar no núcleo duro da campanha Obama, parte II.
Entre o pragmatismo e a ‘Obamania’
Há, por isso, uma dose mista na receita de Obama até Novembro de 2012. Na Casa Branca, manterá o estilo que tem marcado os últimos meses do seu mandato presidencial: pragmático e, por vezes, até mesmo salomónico, ao tentar agradar a democratas e republicanos. Quem ouça habitualmente os discursos de Barack, já notou, por certo, a forma como o Presidente carrega no «and» ao sublinhar a necessidade de se chegar a entendimentos entre «democratas e republicanos».
Enquanto isso, em Chicago, o seu núcleo duro vai preparando o regresso da ‘Obamania’ – mesmo que, num segundo acto, possa já não ter o aliciante da «mudança» que marcou a palavra-chave da primeira eleição.