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Nancy Pelosy, 'madam speaker'


Texto publicado no passado dia 21 de Dezembro, no «Histórias da Casa Branca», site de A Bola, secção Outros Mundos, sobre a speaker da Câmara dos Representantes:

Nancy Pelosi, "madam speaker"

Por Germano Almeida

Há um elo fundamental para que a corrente entre a Casa Branca de Barack Obama e o Congresso possa funcionar – e batalhas como a da Saúde mostram que nem sempre tem funcionado da melhor forma. Esse elo chama-se Nancy Pelosi, a poderosa 'speaker' da Câmara dos Representantes.

Nancy Patricia D'Alesandro Pelosi, 69 anos, é a primeira mulher a liderar a House (a câmara baixa), um marco histórico que até George W. Bush (que ainda era Presidente quando Nancy atingiu o posto) destacou durante largos minutos em discurso no Congresso. É, também, a primeira italo-americana e a primeira congressista eleita pelo estado da Califórnia a assumir o posto de speaker.

Filha de um antigo congressista do Maryland, Thomas D'Alesandro, Nancy cresceu numa família com fortes ligações ao Partido Democrata. Além de ter servido no Congresso, o pai de Nancy foi também mayor de Baltimore, tal como o filho, Thomas D'Alesandro III, irmão da actual 'speaker'.

É católica (religião minoritária no meio predominantemente protestante da política americana) e está casada, há 46 anos, com Paul Pelosi. Têm cinco filhos: Nancy Corrine, Christine, Jacqueline, Paul e Alexandra.

A vocação política, que está nos genes de Nancy, levou-a a entrar no Congresso há mais de duas décadas, em 1987. Quinze anos depois, tomou a liderança da bancada democrata, sucedendo a Dick Gephardt, que abandonou o cargo para preparar a sua (mal sucedida...) candidatura presidencial nas primárias de 2004.

Depois de ter liderado a então minoria democrata durante quatro anos, na primeira parte dos anos Bush, a vitória do Partido Democrata nas intercalares de 2006 levou Pelosi a ser escolhida para comandar a Câmara dos Representantes.

Jogo de equilíbrios
Dois anos depois, quando Barack Obama conquistou a Casa Branca, os democratas passaram a beneficiar de um «pleno» de que há muito não dispunham: controlam, desde aí, a Presidência, o Senado e a Câmara dos Representantes.

A somar a este cenário aparentemente tão favorável para o Partido Democrata, falta dizer que, poucos meses depois da eleição de Obama, foi atingido o mítico número de 60 senadores – o limiar que impede um 'filibuster' (minoria de bloqueio) republicano.

É que apesar de terem perdido o influente senador Joe Lieberman, do Connecticut (que passou para a coluna dos independentes), os democratas conquistaram o apoio do senador Arlen Spector, da Pensilvânia, que trocou de partido, abandonando os republicanos, na sequência do apoio que deu ao 'stimulus package' preparado pela Administração Obama para responder à crise económica, aprovado no Senado.

À primeira vista, parecia o cenário político ideal para que a Administração Obama pudesse jogar os seus trunfos com relativa tranquilidade. Mas é sabido que as coisas estão longe de ser assim: o Presidente ainda não sabe se vai conseguir passar no Senado um dos pilares do seu primeiro mandato, a Reforma da Saúde, apesar de esta já ter passado na Câmara dos Representantes. Foi uma aprovação histórica, mas tangencial – e a intervenção de Nancy Pelosi nas negociações de bastidores revelou-se decisiva.

Com um Partido Republicano cada vez mais disposto a subir o tom da oposição a Obama (e ansioso por aproveitar as intercalares de 2010 para alterar fortemente os dados do jogo), e com uma fatia minoritária -- mas significativa para formar maiorias -- de 'Blue Dogs' democratas que vota frequentemente em direcção oposta à do Presidente, não tem sido fácil gerir este jogo de equilíbrios.

Obama sabe que corre o risco de perder estas maiorias alargadas no Congresso dentro de poucos meses – e conta com a habilidade negocial de Nancy para ir passando as medidas essenciais. Já foi assim com a recuperação económica, está a ser assim com a Reforma da Saúde e há-de ser assim com a Climate Bill e, sobretudo, quando chegar o momento do Congresso apreciar a decisão do Presidente para o AfPak.

Refazer pontes políticas
Forte opositora da guerra do Iraque, Nancy também tem sido contra a escalada militar adoptada pelos EUA no Afeganistão, nos últimos anos, e não escondeu as suas enormes reservas sobre a recente decisão de Barack Obama de enviar mais 30 mil efectivos para o terreno.

Também na Reforma da Saúde, Pelosi tem-se situado na ala esquerda das sensibilidades democratas, mostrando-se acérrima defensora de uma via tendencialmente universal – e a favor da polémica 'public option', que está a emperrar uma solução de consenso.

Mas, como 'speaker' do Congresso, Nancy tem sabido interpretar a máxima que nos diz que a política está longe de ser um mundo ideal e deve ser «a arte do possível»: há poucos meses, garantia a pés juntos que «a Reforma da Saúde terá a 'public option' ou então não será uma verdadeira reforma». Perante as ameaças dos 'Blue Dogs' de travarem o diploma, Nancy já diz agora que «vale a pena encontrar vias para encontrar pontes políticas que permitam aprovar o essencial».

Mesmo ocupando uma franja mais liberal do que o Presidente, Nancy Pelosi tem sido decisiva para que Obama possa ver no Congresso um aliado e não um adversário.»