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Tempestade perfeita
Texto publicado na rubrica «Histórias da Casa Branca», do site de A Bola, secção Outros Mundos:
«E, subitamente, parece ter-se gerado uma «tempestade perfeita» na Administração Obama. A perda da supermaioria no Senado, depois da incrível derrota de Martha Coakley no Massachussets, transformou os últimos dias numa espécie de pesadelo para o Presidente.
O que se passou no Massachussets foi mais uma prova de que, na política americana, nunca se deve festejar antes do tempo. Vicky Kennedy, viúva de Ted, tinha avisado, a poucos dias da votação: «Este não é o lugar dos Kennedy: é o lugar do povo. Teremos que o merecer.» A campanha eficaz do republicano Scott Brown fez o resto.
É certo que os democratas ainda têm uma enorme maioria na câmara de elite. Como lembrou Paul Begala, estratega democrata e antigo conselheiro de Bill Clinton, «convém não esquecer que o Partido Democrata passou da melhor situação de sempre para a segunda melhor situação de sempre no Senado».
O problema é que, na política americana, o lado simbólico tem muita importância. Sem a capacidade de travar um 'filibuster' (minoria de bloqueio) republicano, a bola deixou de estar do lado dos democratas – e temas mais fracturantes, como a Reforma da Saúde, correm o risco de ficar na gaveta.
Nancy Pelosi, ‘speaker’ do Congresso, passou os últimos dias a tentar refazer as condições políticas para que uma versão mais modesta da Reforma da Saúde ainda possa ser aprovada – mas há quem garanta que a derrota do Massachussets transformou esse sonho dos liberais num caminho sem saída.
Jobs, jobs, jobs
O tom e o conteúdo do primeiro discurso sobre o Estado da União foram um reflexo de que Obama procura encontrar uma nova estratégia para a sua Presidência.
A insistência na tecla da criação de emprego ('jobs, jobs, jobs') é reveladora: será essa a prioridade no segundo ano de mandato.
Barack acenou aos independentes, que depois de o terem apoiado na eleição presidencial estão a abandoná-lo mais rapidamente do que se esperava. O «spending freeze» é um piscar de olho aos centristas que se preocupam com os gastos excessivos, mas, ao mesmo tempo, Obama tenta recuperar o entusiasmo de sectores progressitas, ao falar da «melhoria das condições da classe média».
Horas antes do seu discurso no Capitólio, Obama reforçava, em entrevista à ABC, a sua visão crítica sobre a rapidez com que os estados de espírito mudam em Washington: «Quando estás em queda nas sondagens, és um idiota. Quando estás em alta, és um génio. É assim que os ‘media’ e os ‘pundits’ funcionam na América. Há uma tendência em Washington para achar que a função de um Presidente a cumprir um primeiro mandato é trabalhar para a reeleição. Mas eu não fui eleito para procurar a reeleição. Fui eleito para melhorar a vida dos americanos».
A Administração Obama passa, indiscutivelmente, por um mau bocado. Mas o percurso político do Presidente desaconselharia a que se fizessem já apostas sobre o seu falhanço.»