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Histórias da Casa Branca: contra-relógio até Novembro



Texto publicado esta quinta-feira no site de A BOLA, secção Outros Mundos:

Contra-relógio até Novembro

Por Germano Almeida

«Ted Kennedy, o mítico senador democrata do Massachussets, falecido em Agosto passado, costumava dizer que «por muito que os membros do Senado dos dois lados da bancada discutissem no Capitólio, ficavam todos amigos depois das seis da tarde».

A frase, recordada por Barack Obama em recente sessão comemorativa do St. Patrick's Day, perante a comunidade de ascendência irlandesa nos EUA, dá conta de um clima bipartidário que vigorou em largos períodos dos quase 50 anos em que Ted se manteve no Senado mas que, manifestamente, deixou de ser possível, perante as posições extremadas que o debate de mais de um ano sobre o ObamaCare gerou em Washington.

Por estes dias, com a aprovação da Reforma da Saúde ainda a dominar a agenda de uma Administração Obama subitamente renascida, Ted Kennedy tem sido muito lembrado. O "liberal lion" morreu sem ver concretizado o sonho que durante décadas alimentou no Senado – mas não faltaram referências ao seu legado.

Nancy Pelosi, nas alegações finais, momentos antes da histórica votação na Câmara dos Representantes que viria a selar a concretização desse sonho, recordou a carta que Ted escreveu a Barack Obama, dias antes de morrer.

Na missiva, o mais novo dos irmãos Kennedy exortava o Presidente a manter a Reforma da Saúde como prioridade das prioridades, pela mais forte das razões: «Trata-se do principal problema a resolver na nossa sociedade».

Na cerimónia de assinatura da lei, momento que porá Obama na história da América (seja qual for o seu destino político a partir de agora), o Presidente tinha ao seu lado Vicky Kennedy, a viúva de Ted, e Marcelis Owens, o menino de 11 anos cuja mãe morreu por lhe ter sido negada a assistência médica num hospital (ficara desempregada e, por causa disso, perdera o seguro de saúde).

Acidez republicana

O clima de tensão bipartidária já foi muito intenso nos últimos anos. Mas com o debate sobre a Reforma da Saúde chegou a níveis que dificilmente serão sanáveis durante o primeiro mandato de Obama.

Como já havia acontecido na votação realizada na véspera de Natal no Senado, nenhum republicano votou a favor da proposta aprovada na House.

Com a aprovação de 21 de Março, cantou-se vitória na Administração Obama – e o Presidente conseguiu mesmo, contra a previsão de muitos, concretizar a sua principal bandeira.

Robert Gibbs, porta-voz da Casa Branca, afirmou mesmo que, para Barack Obama, «a aprovação da Reforma da Saúde foi mais gratificante do que sua própria eleição como Presidente».

Mas o que a batalha legislativa concluída recentemente no Congresso também reafirmou foi a total impossibilidade de se pensar num clima de «reconciliação» durante a era Obama.

O Partido Republicano teve uma atitude de total obstrução durante a longa discussão da Reforma da Saúde – e promete insistir nesse caminho. No dia seguinte à vitória democrata, John Boehner, líder da minoria republicana no Congresso, prometia: «Faremos tudo para travar esta reforma errada e nociva para a América».

E a primeira retaliação não demorou a aparecer: depois de analisada ao detalhe, a Health Care Bill apresentava, garantiam os republicanos, duas irregularidades que obigavam a novo escrutínio.

A votação repetiu-se – e a aprovação confirmou-se. Mas Boehner lançou novo aviso, desta vez com um alvo bem definido: a 'speaker' Nancy Pelosi: «Vá-se preparando para estar na mira de um pelotão de fuzilamento, depois de Novembro».

A alusão do congressista do Ohio é clara: Boehner está a contar com enormes ganhos eleitorais dos republicanos nas 'midterms' do final do ano.

O tempo está a contar
Não é provável que os democratas percam a maioria no Senado e na Câmara dos Representantes, mas é de admitir que as eleições intercalares permitam aos republicanos uma redução significativa na actual maioria clara dos democratas.

Obama sabe perfeitamente disso – e está a preparar um autêntico contra-relógio legislativo para aproveitar os meses que faltam até Novembro, de modo a ainda avançar com temas difíceis como a Reforma Financeira.

O tempo está a contar.»