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Histórias da Casa Branca: Reforma Financeira, a próxima batalha



Texto publicado a 8 de Abril, no site de A Bola, secção Outros Mundos:

Reforma Financeira, a próxima batalha

Por Germano Almeida


«Na política americana, não há tempo para festejar depois de um grande triunfo. A aprovação da Reforma da Saúde pode vir a ser recordada como o melhor momento do primeiro mandato de Obama, mas já começou aquela que será, talvez, a segunda batalha mais dura: tornar o sistema financeiro mais fiável e mais transparente.

O tema dominou a campanha presidencial de 2008. No auge da tempestade bolsista, que rebentou mês e meio antes da eleição de Obama, o então nomeado do Partido Democrata marcou pontos pelo discurso altamente crítico que, desde o início da disputa presidencial, teve contra o «comportamento irresponsável dos 'fat cats' de Wall Street».

É certo que John McCain, o seu opositor republicano, também tinha posição crítica sobre o mesmo assunto: mas, como nomeado do GOP, não conseguiu escapar à herança desastrosa da Administração Bush – e ter tido Phil Gramm como conselheiro económico também não ajudou.

Antigo senador pelo Texas, Gramm foi apontado como um dos responsáveis pela desregulação do sistema, ao ter assinado o Gramm-Leach-Blilei Act, em 1999, na recta final do segundo mandato de Bill Clinton.

Quando McCain afastou Gramm do seu núcleo duro, já era tarde: apesar do discurso reformista de John, foi Obama quem conseguiu agarrar a tese de uma necessidade urgente de se reformar o sistema – com mais regulação e melhor supervisão.

Há, até, quem afirme que essa ideia garantiu a Obama a eleição: é que, nos dias anteriores ao eclodir da crise (o Lehman Brothers faliu a 15 de Setembro de 2008), McCain tinha ultrapassado Obama nas sondagens, devido ao 'efeito Sarah Palin'...

Proteger as pessoas, não os bancos
É essa a ideia forte da mensagem do Presidente: o que a crise de 2008 mostrou é que cabe aos políticos em Washington «garantir que o sistema vos proteja a vocês, que vivem na Main Street, e não aos 'fat cats' que se movem pela ganância de Wall Street».

Esta frase foi repetida vezes sem conta por Barack durante a campanha – e voltou a ser utilizada depois da eleição.

Muitos vêem nesta posição do Presidente o seu maior deslize populista. Há até quem acuse Obama de hipocrisia, por manter esse discurso crítico em público, ao mesmo tempo que se rodeou de gente que sempre esteve ligada ao sistema que tanto critica (Larry Summers, Tim Geithner, Peter Orszag...)

Mas essa é uma das facetas que torna Obama um político singular: ao chegar à Casa Branca, Barack sabia que era importante chamar uma boa parte da 'nata' do Clintonismo. Mas, enquanto Presidente, é ele quem tem marcado a agenda e imposto o tom dominante da administração.

«Proteger as pessoas e não os bancos», o lema de Barack, não é, propriamente, um objectivo fácil de passar à prática.

A primeira fase do ataque à crise implicou a aprovação de um Plano de Recuperação e Reinvestimento, que incluía um 'stimulus package' de cerca de 800 mil milhões de dólares.

Evitar novo descontrolo
Garantida a ajuda de emergência por parte do poder federal, chega, agora, o reverso da medalha: mesmo quando aprovou essa enorme intervenção para salvar o sistema financeiro, Obama recordou sempre que os bancos e empresa alvos de 'bailouts' teriam que mudar de atitude, de modo a passarem a ter práticas mais responsáveis e transparentes.

Só que não é realista acreditar numa mudança súbita de quem está dentro de um sistema movido pelo lucro e pela ganância. Para que o descontrolo não se repita, a Administração Obama está a preparar um pacote legislativo que vai estar em foco nas próximas semanas.

Chris Dodd, senador democrata do Connecticut, tem feito a ponte com os republicanos – mas, tal como sucedeu com a Health Care Bill, não será fácil chegar a uma plataforma bipartidária.

Seja qual for o acordo final, a via apontada por Obama é clara: mais regulação, mais supervisão e regras mais apertadas, impostas pela Reserva Federal aos bancos.

Um dos principais trunfos dos democratas passa pela criação de uma Agência de Protecção ao Consumidor, que garanta a defesa dos direitos dos cidadãos em questões cruciais como os contratos de compra de habitação ou os cartões de crédito.»