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Histórias da Casa Branca: A nova estratégia nuclear


Texto publicado no site de A BOLA, secção Outros Mundos, a 16 de Abril de 2010:

A nova estratégia nuclear

Por Germano Almeida


«O caminho fora apontado por Obama em Abril de 2009, no discurso de Praga. Na altura, parecia um objectivo demasiado vago, um pouco ingénuo até: lançar as bases para um Mundo sem armas nucleares.

Meio ano depois, a atribuição do Nobel da Paz deu ao Presidente dos EUA o primeiro grande sinal de que a mensagem estava a passar – ainda que muita gente não tenha percebido.

Outro meio ano depois, aparece, agora, a primeira grande consequência prática da nova estratégia dos EUA para a questão nuclear: a assinatura, com a Rússia de um novo Tratado START, que prevê reduções muito significativas no acesso às armas nucleares por parte das duas maiores potências.

Ainda mais importante do que isso, este acordo foi um enorme passo para o reforço nas relações entre Washington e Moscovo, que não há muito tempo (basta lembrar a crise da Geórgia) chegaram a estar próximas dos tempos da Guerra Fria – tamanha era a tensão e a desconfiança de parte a parte.

Com Obama e Medvedev (leia-se, Putin...) em sintonia na necessidade de levar a sério o desarmamento nuclear, emitiu-se um claro sinal de pressão sobre o regime iraniano. Até agora, Ahmadinejad contava com os russos como eventuais aliados na ameaça aos EUA.

Depois do tratado assinado a 8 de Abril, no Castelo de Praga, o Irão passou a estar sob o crivo de norte-americanos e russos, dado que ambos censuram o projecto de armamento nuclear de Teerão.

Reduzir a partir de cima
Nos últimos anos, floresceu a ideia de que o 'tandem' EUA/Rússia tinha deixado de ser tão poderoso no assunto nuclear como fora durante a Guerra Fria.

É verdade que há, hoje, outros 'players' relevantes a ter em conta (China, Coreia do Norte, Paquistão, Índia...), mas uma rápida consulta pelos números faz-nos perceber que, afinal, a tradição, neste aspecto, ainda é quase igual ao que era.

É que americanos e russos, juntos, congregam perto de 90 por cento do arsenal nuclear conhecido. Um acordo com a dimensão histórica como o que foi assinado em Praga garante, assim, uma mudança de paradigma – mesmo que só tenha sido assinado por dois chefes de estado.

Este tratado tem uma enorme relevância: não só pelos limites que são auto-impostos por EUA e Rússia no acesso a ogivas nucleares, mas pelo factor de dissuasão que tenta impor às eventuais ameaças: Irão, Coreia do Norte e, mesmo, a China.

Nos dias que se seguiram à assinatura na República Checa, Obama acolheu em Washington uma importante Cimeira sobre Segurança Nuclear. Mais de 40 líderes de todo o Mundo ouviram da boca do Presidente os contornos da nova estratégia dos EUA para que as armas nucleares possam, um dia, deixar de ser uma ameaça real para todos nós.

Em Abril de 2009, muitos consideraram ingénua a intenção de Obama. Meio ano depois, torceram o nariz com a atribuição do Nobel. Em Abril de 2010, já com o novo Tratado START assinado e depois da mega-cimeira de Washington, já parece mais real mais este traço da «mudança» prometida por Barack.

Não depende só da Administração Obama – mas o primeiro grande empurrão já está dado.»