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Histórias da Casa Branca: O dia da morte de Osama Bin Laden


Barack Obama anunciou, em Washington, a morte de Osama Bin Laden, na sequência de uma operação muito bem sucedida, que durou meses, ordenada pelo Presidente, dirigida pela CIA e executada por forças especiais norte-americanas



O dia da morte
de Osama Bin Laden

Por Germano Almeida


Foi preciso esperar quase uma década, mas o inimigo público número um que a América apontou a 11 de Setembro de 2001 foi mesmo apanhado e morto.

Naquele dia maldito, que incrivelmente já aconteceu há quase uma década, o então Presidente George W. Bush prometera capturar o novo satanás, nem que fosse à moda do Velho Oeste: ‘Dead or Alive’.

Os norte-americanos puseram-lhe a cabeça a prémio e até fixaram um preço para a captura de Bin Laden: 25 milhões de dólares.

Dez anos depois, com duas aventuras militares americanas pelo meio (o desastre do Iraque e a ambiguidade do Afeganistão), o sucessor de Bush na Casa Branca tem um nome estranhamente parecido com o inimigo agora assassinado.

Parecia estar escrito nas estrelas: coube mesmo a Obama, ele próprio um produto do pós-ameaça Bin Laden, pela antítese que representa ao terror lançado por Osama, a tarefa de anunciar «à América e ao Mundo» a captura e morte do rosto do terror lançado sobre os EUA a 11 de Setembro de 2001 – e, a partir desse dia, sobre vários pontos do globo, nos anos que se seguiriam.

Foi o culminar de uma operação quase perfeita: numa enorme vitória para a Administração Obama (e sobretudo para a forma como Barack entendeu conduzir a sua interpretação do que deve ser um «commander in chief»), Osama Bin Laden, 54 anos, filho de um emigrante iemenita que se transformou num dos homens mais ricos da Arábia Saudita, fundador e líder da Al Qaeda, principal mentor do maior atentado terrorista perpetrado em solo norte-americano, morreu na madrugada de 1 para 2 de Maio, na casa onde tinha o seu esconderijo em Abbottabad, a 60 quilómetros de Islamabade, capital do Paquistão, após uma operação especial autorizada pela Administração Obama, dirigida pela CIA e executada por elementos da Navy Seal e da Joint Special Operations Command.

Foi uma missão preparada ao detalhe e que terá começado em Agosto, num cruzamento de serviços de informação, decisão estratégica e execução no terreno de tropas especiais. Os últimos anos pareciam ter mostrado uma certa perda de eficácia americana neste tabuleiro – e, também por isso, este desfecho extraordinariamente bem sucedido constitui uma das maiores vitórias de Barack Obama desde que assumiu o cargo de Presidente dos EUA.


Apanhar Bin Laden, quase uma década depois do 11 de Setembro, era ainda uma questão de honra para os norte-americanos

«Este foi um bom dia para a América», anunciou Obama. «O Mundo tornou-se um lugar melhor depois da morte de Osama Bin Laden», prosseguiu o Presidente, num registo bem ao estilo da retórica clássica dos EUA nestas ocasiões.

«Há quase dez anos, sofremos o pior ataque da nossa história. Um dia que nunca sairá da nossa memória. Hoje, às famílias que perderam alguém na guerra contra o terror podemos dizer que a justiça foi feita. O nosso país manteve o empenho e a justiça foi feita. Hoje lembramo-nos, como nação, que não há nada que não possamos fazer quando nos recordamos do sentimento de unidade que nos define», sentenciou Obama.

A morte e o seu simbolismo
Nem vale a pena argumentar muito sobre a mais que evidente perda de influência operacional de Bin Laden nos últimos anos. Desde 2005/2006, no pós-atentados de Londres (Julho 2005), que a Al Qaeda já tinha deixado de ser uma estrutura global e centralizada – e passou a ser algo próximo de um mito pouco consistente, pulverizado em micro-organizações de terrorismo franchisado em zonas como o Magrebe, Médio Oriente e, sobretudo, nos países muçulmanos da Ásia.

E também de pouco valerá, num dia histórico como este, com tamanha carga simbólica para todos os que condenam o terrorismo e, em especial, para os norte-americanos, recordar que os recentes movimentos sociais e políticos no mundo árabe (que, nos últimos meses, já redundaram nas quedas das ditaduras de Ben Ali, na Tunísia, e Mubarak, no Egipto, e ainda na eclosão da guerra na Líbia e fortes convulsões sociais na Síria, no Iémen e no Bahrein), deixavam antever uma certa perda de ascendente por parte da Al Qaeda em relação à «agenda de contestação» daquela que foi uma importante base de apoio da organização terrorista, nos primeiros anos do século XXI.


A morte de Bin Laden gerou uma onda de euforia em cidades como Nova Iorque e Washington

Para os americanos, esta era uma espinha atravessada na garganta. Uma questão de orgulho que havia que resolver. As reacções de euforia que se verificaram em cidades como Nova Iorque ou Washington são a maior prova de como a morte de Bin Laden era uma missão que faltava cumprir no espírito americano. E até aconteceram reacções quase da esfera do milagre político, como as felicitações dadas ao Presidente Obama por... Dick Cheney!

E depois da euforia?
Festejar uma morte tem um certo tom macabro num mundo supostamente racional. Mas foi isso que acabou de acontecer, nas mais variadas capitais «civilizadas» -- de Washington a Paris, de Londres a Madrid, de Lisboa a Nova Iorque (ONU).

Passada a euforia, que por certo durará pouco neste Mundo de ‘headlines’ instantâneos, há que analisar o que pode mudar na luta contra o terrorismo.

Estranhamente, deve mudar pouco.

Bem recentemente, Obama tomou decisões importantes em postos chave na Defesa e Segurança Nacional -- e que apontam para a continuidade na linha de «realismo» que tem dominado a sua política externa: Leon Panetta, experimentadíssimo, transita da CIA para o Pentágono, rendendo Robert Gates (único sobrevivente dos anos Bush para a era Obama em cargos de topo) no posto de secretário da Defesa.

David Petraeus, o mais respeitado general do exército americano, o homem da ‘surge’ bem sucedida que permitiu o início da retirada do Iraque, será o novo homem forte da CIA, deixando os comandos militares do Iraque e Afeganistão ao seu sucessor, o general John Allen.

Quando assumir funções em Langley, Petraeus reforçará a ideia de que a rota de Obama para os postos de Defesa e Segurança Nacional passa pela redução de efectivos no terreno e pela aposta nos neurónios e nos serviços secretos. Sem estes dois ingredientes, acreditem, não se teria feito História algures em Abbottabad, numa mansão que escondia o homem mais procurado do Mundo.

O importante era apanhar «o cérebro do terror» – e Barack, na campanha presidencial de 2008, já tinha delimitado o alvo: se fosse necessário, os EUA iriam «matar Osama Bin Laden».

Há máximas que nem um Presidente tão original como Obama consegue mudar. E o orgulho americano vê-se em operações especiais como esta.