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Histórias da Casa Branca: O dilema dos republicanos
Mitt Romney, Michelle Bachmann e Tim Pawlenty: os antigos governadores podem protagonizar a luta final pela nomeação republicana; a congressista do Minnesota pode aproveitar as quedas de Donald Trump, Sarah Palin e Mike Huckabee para agarrar o apoio da ala dura
O dilema dos republicanos
Por Germano Almeida
A eliminação de Osama Bin Laden foi interpretada por muitos como o passaporte de Barack Obama para a reeleição.
Se é verdade que o sucesso da operação que levou à morte do mentor do 11 de Setembro ficará como uma das principais marcas do primeiro mandato do 44.º Presidente dos Estados Unidos da América, a resposta certa sobre as verdadeiras hipóteses de Obama assegurar a reeleição estará muito mais no que vier a acontecer no campo republicano.
A corrida às presidenciais norte-americanas é muito longa e imprevisível. A um ano e meio das eleições gerais, achar que a subida de popularidade obtida por Obama no pós-operação que levou à morte de Bin Laden será o factor decisivo é, no mínimo, lançar os dados fora do tempo.
Até lá, muito irá acontecer. E a componente económica, que continua a ter contornos muito pouco previsíveis, deve pesar mais.
Trunfo mais consistente para se identificar uma clara tendência rumo à reeleição de Obama tem a ver com a falta de qualidade política das hipóteses que têm aparecido no campo opositor.
Esqueçam Trump e Sarah
Até há algumas semanas, os conservadores andaram entretidos com dois possíveis candidatos que tinham tudo para agitar os media, mas que seriam a receita quase certa para um rotundo fracasso do Partido Republicano, nas aspirações do GOP de remover Obama da Casa Branca já em 2012: Donald Trump e Sarah Palin.
O multimilionário levou ao limite a sua bizarra cruzada em relação ao local de nascimento do Presidente. De pouco valeu o facto de Obama já ter garantido, na eleição de 2008, que as suspeitas de que não seria born in America eram disparatadas.
Dando uma inusitada força mediática ao estranho movimento dos ‘birthers’ (um grupo que se organizou nos últimos dois anos, com o único intento de tentar provar algo que, simplesmente, não corresponde à realidade), Donald Trump tanto insistiu nessa mentira que levou Obama a mostrar o óbvio: de forma discreta, mas clara, o Presidente divulgou o seu certificado de nascimento, que sem margem para qualquer dúvida refere que Barack nasceu em Honolulu, no Hawai – o 50.º estado dos EUA.
Num daqueles passes de mágica em que Obama é mestre, a disparatada polémica do seu local de nascimento acabou por proporcionar-lhe um momento de clara vantagem sobre Trump, quando, em pleno jantar dos correspondentes da Casa Branca – um dos momentos-chave do ano político na América – o Presidente fez uma piada sobre o facto, mostrando um vídeo que mostrava, em desenhos animados, paisagens africanas: «Este é o meu vídeo de nascimento», lançou Obama, divertido. «E caso a Fox News não tenha percebido, isto era uma piada…»
Barack não se ficou por aqui e, com Donald Trump presente na sala, de ar indisfarçavelmente constrangido, mostrou outra imagem: «Este será o aspecto da Casa Branca, se Donald Trump for eleito». No vídeo aparece uma montagem da casa oficial do Presidente dos EUA, com um letreiro em tons berrantes e um estilo de gosto duvidoso. Foi a gargalhada na plateia – e terá sido o momento da decisão de Donald Trump. Dias depois, o multimilionário anunciou: «Não vou avançar com uma candidatura à Presidência».
Sarah Palin, a outra peça out of the box do campo republicano, ainda não se decidiu – mas os sinais começam a apontar para que também não avance.
A ex-governadora do Alasca, escolhida por John McCain para vice do ticket presidencial republicano em 2008, conseguiu mobilizar as hostes conservadoras até Novembro do ano passado – altura em que o Tea Party deu um empurrão decisivo à vitória dos republicanos nas eleições intercalares para o Congresso.
Mas, nos últimos meses, os dados da equação mudaram muito. A falta de preparação política de Sarah tem vindo ao de cima – e as suas dificuldades em disputar o centro político com Obama estão a ser espelhadas nas sondagens.
Com números desanimadores nas pesquisas, o entusiasmo em redor de Palin está a arrefecer – e pode comprometer as aspirações da hockey mom do Alasca de vir a avançar com uma candidatura presidencial para 2012.
Outro nome forte da ala dura dos republicanos que já garantiu que não vai a jogo é Mike Huckabee. O antigo pastor baptista, ex-governador do Arkansas, surpreendeu tudo e todos ao anunciar, recentemente, que não será candidato – apesar de as sondagens o terem posto, até há poucas semanas, como um dos três nomes mais bem colocados para obter a nomeação republicana.
Mike, que nas primárias republicanas de 2008 obteve fortes vitórias nos estados do Sul, deixa assim em aberto o campo conservador para outros dois candidatos que, tudo indica, irão disputar o eleitorado mais à Direita: Newt Gingrich, 67 anos (antigo speaker do Congresso, líder da Revolução Republicana dos anos 90) e Michelle Bachmann, 56 anos, congressista do Minnesota e candidata preferida dos movimentos ligados ao Tea Party.
Romney, Pawlenty, Christie, Huntsman ou uma surpresa?
Sem Trump, Huckabee e, provavelmente, Palin na jogada – e com Gingrich e Michelle Bachmann já a posicionarem-se como prováveis representantes da ala dura – a corrida republicana começa, digamos, a normalizar-se, depois de mais de um ano marcado por um estranho impasse.
O fenómeno do Tea Party, extremamente mobilizador mas pouco consistente -- e mesmo nada abrangente para quem pretende disputar uma eleição presidencial --, parecia ofuscar os candidatos do Partido Republicano que mais condições poderiam reunir numa disputa presidencial com Barack Obama.
Depois do ruído e do entusiasmo fácil pós-midterms (dois factores que talvez expliquem um certo atraso no arranque da corrida pela nomeação republicana), os principais líderes republicanos começam, agora, a ter o seu espaço.
E as sondagens, finalmente, vão mostrando uma tendência mais ligada ao que poderá acontecer depois do Verão, altura em que as coisas deverão começar a clarificar-se no campo republicano.
Dos candidatos que já anunciaram a intenção de avançar, há dois nomes com claras hipóteses de lutar pela nomeação: Mitt Romney, 64 anos, antigo governador do Massachussets e terceiro classificado nas primárias de 2008, e Tim Pawlenty, 50 anos, ex-governador do Minnesota e que chegou a estar na shortlist de John McCain para a vice-presidência republicana, em 2008.
Embora ainda não tenham confirmado as respectivas candidaturas, apontaria outros dois nomes que julgo que poderem vir a disputar a nomeação: o antigo governador do Utah, e embaixador dos EUA na China até ao passado dia 30 de Abril, Jon Huntsman, 51 anos, e o governador da Nova Jérsia, Chris Christie, 62 anos.
Huntsman poderia ter tudo para ser o candidato ideal contra Obama: é um republicano moderado, com capacidade para penetrar no eleitorado democrata em caso de dificuldades económicas em 2012, e dispõe de bons apoios na máquina republicana, sobretudo entre os governadores de estados.
Mas tem um grande problema: está conotado com a Administração Obama, pelo simples facto de a ter servido até há poucas semanas, como embaixador norte-americano em Pequim.
Não tão moderado, mas claramente enquadrável na zona mais clássica do Partido Republicano, Mitch Daniels poderia ser um candidato forte: é do Indiana, um estado importante em eleições presidenciais, e poderia aproveitar a não candidatura de Haley Barbour para vir a ganhar apoios de peso junto do mainstream republicano. Mas Mitch anunciou, esta semana, que não vai avançar – talvez por força das sondagens que lhe dão números muito escassos.
Já na corrida, mas sem quaisquer hipóteses de nomeação, estão Herman Cain, Gary Johnson, Ron Paul e Rick Santorum.
No meio de algumas certezas e, sobretudo, muitas dúvidas do campo republicano, há um dado que se mantém coerente, na linha de rumo para se perceber a disputa presidencial norte-americana de 2012: Barack Obama continua à frente em todas as sondagens, liderando todos os cenários.
Mas é preciso saber esperar: é que a corrida, oficialmente, ainda nem sequer começou…