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Histórias da Casa Branca: Pete Rouse, escolha de confiança
Texto publicado no site de A BOLA, secção Outros Mundos, a 8 de Outubro de 2010:
Pete Rouse, escolha de confiança
Por Germano Almeida
«A escolha de Pete Rouse para sucessor de Rahm Emanuel como chefe de gabinete da Casa Branca reforçou a ideia de que Barack Obama pretende apostar forte no seu círculo mais restrito para preparar a segunda metade do seu mandato presidencial.
Era difícil apontar alguém mais próximo de Obama. Rouse, que já desempenhava as funções de conselheiro sénior do Presidente, é um dos poucos elementos que merece a total confiança de Barack. Talvez só Valerie Jarrett e David Axelrod (os outros dois conselheiros seniores de Obama) têm com o Presidente um grau de proximidade semelhante ao que tem Pete.
Dias antes da escolha de Rouse, chegou a correr em Washington que Valerie Jarrett seria a escolhida. Mas o escasso pendor político de Valerie (é amiga do casal Obama há mais de 20 anos, mas não tem grandes ligações às bases democratas) terá sido um factor inibidor.
Quanto a Axelrod, é muito provável que Barack pretenda libertá-lo das funções na Casa Branca dentro de poucos meses, de modo a que Ax possa começar a montar a estratégia para a campanha presidencial de 2012 – e isso implicará um regresso de David a Chicago.
O tempo, na Casa Branca, é por isso de mexer nas pedras e preparar as próximas batalhas. A rota para a reeleição só começará, verdadeiramente, depois das 'midterms' de Novembro.
Depois da histórica caminhada de 2008, Obama deverá repetir a receita: manter um núcleo duro curto, mas muito estável e muito fiel.
David Axelrod, o fiel escudeiro de Barack, voltará, certamente, a ser a peça central. E é de prever que a estratégia da reeleição passe por outras duas figuras que foram muito importantes na rota da primeira vitória: Jim Messina, actual 'chief of staff' adjunto da Casa Branca, e Anita Dunn, directora de comunicação nos primeiros meses da Administração Obama – e que fez parte do restrito grupo de assessores que fizeram a totalidade dos dois anos que durou a caminhada de Barack até à Casa Branca.
E, claro, Obama não dispensará os serviços de David Plouffe, o 'mago' que dirigiu a sua campanha presidencial de 2008. Plouffe não fez parte da primeira fase da Administração Obama, mas voltou para ajudar na campanha para as 'midterms' e deverá assumir novas funções logo após as intercalares de Novembro.
'Rhambo' saiu em lágrimas
O cargo de 'chief of staff' tem uma enorme importância na organização interna da Casa Branca. As características muito especiais de Rahm Emanuel, 50 anos, tornaram o posto ainda mais influente.
Emanuel era uma espécie de primeiro-ministro do Governo Obama. O mesmo não deverá suceder com Pete Rouse, que tem um perfil muito mais reservado.
Rahm fazia o contraponto com o perfil excessivamente racional de Barack. Com um feitio explosivo (a sua alcunha nos meios políticos e jornalísticos é... 'Rhambo'), soma histórias muito contadas em Washington, como a do peixe morto que ofereceu, numa bandeja, a um crítico.
Para lá dos defeitos mais visíveis, este judeu que, tal como Barack, começou a carreira política em Chicago, tornou-se um dos homens da confiança de Obama, acima de tudo porque tem duas qualidades de que Barack muito precisou nesta primeira fase do mandato: enorme capacidade de organização e agressividade a atacar os problemas.
Mentor da vitória democrata nas intercalares de 2006, um dos mais próximos conselheiros políticos de Bill Clinton nos anos 90, Rahm fez uso dos seus contactos junto das bases do Partido Democrata e mobilizou apoios para a Reforma da Saúde e para a Reforma Financeira.
Na hora da despedida, Obama lembrou tudo isso e comentou: «Sem a liderança da Rahm, não tínhamos conseguido o que já conseguimos.»
A decisão de Richard Daley de não se recandidatar à câmara de Chicago precipitou a saída de Emanuel da Casa Branca.
Num adeus emocionado, e com lágrimas, Rahm lançou uma tirada cúmplice para Obama: «Senhor Presidente, este é, para mim, um momento agridoce: é com pena que abandono esta função, mas saio para poder cumprir o sonho de ser 'mayor' da melhor cidade do melhor país do Mundo: a nossa Chicago...»
«Let Pete fix it!»
Peter Mikami Rouse, 64 anos, passa a ser o 'chief of staff' da Casa Branca. O nome do meio é esclarecedor: Pete tem ascendência japonesa e, talvez por isso, exala uma tranquilidade e um sangue frio que fazem dele o protótipo do conselheiro «low profile», que não gosta de aparecer.
Formado na London School of Economics e na John Kennedy School of Government, iniciou a sua ligação à consultoria política há quase 40 anos, no gabinete do antigo senador democrata James Abourezk, do Dakota do Sul.
Em 1985, começou uma colaboração que iria durar duas décadas com Tom Daschle, outro senador democrata do Dakota do Sul. Daschle foi líder da maioria democrata no Senado, mas abandonou o Capitólio em 2004, depois de uma inesperada derrota eleitoral.
Rouse, que chegou a ser rotulado de 101.º senador (tamanha era a sua influência, como chefe de gabinete de Daschle), teve papel decisivo na ascensão meteórica de Barack Obama.
Há seis anos, com a saída de Daschle do Senado, seria natural que Tom e Pete abandonassem o Capitólio e seguissem outros caminhos.
Mas foi nesse preciso momento que apareceu Obama, com a incrível vitória de 70 por cento na corrida pela vaga do Illinois. Pete Rouse ficou impressionado com as qualidades de Barack e aceitou ser o seu chefe de gabinete no Senado. Abriu portas a um novato que ainda não tinha os contactos certos em Washington e apressou o caminho da candidatura presidencial de Obama.
Na apresentação de Rouse, Barack contou: «Quando temos um problema complicado na Casa Branca, costumamos dizer: 'Let Pete fix it!' ('deixem o Pete resolver')».
Obama vai precisar muito dessa capacidade de resolução de problemas nos próximos dois anos. Vai mesmo.»