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Histórias da Casa Branca: Um Ano e Meio de Presidência Obama


Texto publicado no site de A BOLA, secção Outros Mundos, a 15 de Julho de 2010:

Um ano e meio de Presidência Obama

Por Germano Almeida


«Barack Hussein Obama tomou posse como 44.º Presidente dos EUA a 20 de Janeiro de 2009, num dia frio de Washington, perante uma multidão de quase dois milhões de pessoas. Ainda nos parece uma data relativamente próxima, mas já se completa, na próxima terça-feira, 20 de Julho de 2010, um ano e meio sobre esse momento histórico para os Estados Unidos.

O primeiro mandato da Presidência Obama ainda está, por isso, na sua metade inicial. Mas as noções de «estreia» e de «absoluta novidade», que marcaram a fase de arranque desta administração, pelas características singulares do actual Presidente, começam a dissipar-se.

Obama parecia ser um Presidente destinado a entrar para a História americana. Já o fez, sem dúvida, por várias razões: por ser o primeiro negro a obter a nomeação presidencial por um grande partido do sistema; o primeiro negro a conquistar a Casa Branca; por ter se ter tornado, aos 47 anos, o quarto Presidente mais jovem da América (só Theodore Roosevelt, John Kennedy e Bill Clinton eram mais novos quando tomaram posse); pela rapidez com que foi laureado com o Prémio Nobel da Paz, apenas nove meses depois de ter sido investido como Presidente; por ter quebrado o mito do Sul, ao obter a presidência, como candidato democrata, sendo um representante de um estado do Midwest, o Illinois.

Por estas e, ainda, por outras razões, Obama já entrou para a História política da América. Mas, um ano e meio depois de ter tomado posse, restam muitas dúvidas sobre se entrará para história pela principal razão de todas: a de ser um Presidente de sucesso.

Quase a meio do seu primeiro mandato, e olhando para os valores da sua taxa de aprovação (que oscilam entre os 45 e os 50 por cento), percebemos que falta muito para que essa meta essencial seja cumprida.

Fractura
A 4 de Novembro de 2008, Barack Obama obteve uma enorme vitória eleitoral: quase 54% dos votos, mais de 70 milhões de sufrágios – de longe, o melhor desempenho de um candidato democrata dos últimos 44 anos, desde Lyndon Johnson.

Levou a melhor sobre John McCain em 29 estados, arrecadando triunfos em todas as zonas da América. Foi, verdadeiramente, um êxito de dimensão nacional, apesar de tantos anticorpos que, como candidato, Barack Obama apresentava à partida.

A dimensão do triunfo de Obama -- e sobretudo a forma como conseguiu ter sucesso em estados que há quase meio século escapavam aos democratas -- parecia conferir-lhe uma capacidade de unir a América em torno de dois desafios tremendos, interligados entre si: dar a volta por cima à crise económica que, já nessa altura, se abatia e conseguir ultrapassar o sentimento de «fractura» que, nas últimas duas décadas, foi crescendo nos EUA, entre o que John Edwards (antigo senador e terceiro classificado nas primárias democratas de 2008) considerou como «duas Américas».

Uma heterogénea e aberta ao Mundo, mais concentrada nas costas e tendencialmente virada para o Partido Democrata; outra mais colada aos valores conservadores, avessa aos programas federais, dominante no Sul e em várias zonas do Midwest, obcecada com os temas religiosos – e com um poder crescente nas escolhas do Partido Republicano.

Durante a campanha presidencial, Obama conseguiu fazer valer a sua ideia de «reconciliação». Para o então nomeado democrata, era possível resolver o grau de hostilidade entre dois campos tão claramente marcados. E a verdade é que, no duelo eleitoral, Barack foi capaz de reunir uma fatia amplamente maioritária em torno dessa vontade «federadora».

O problema é que, enquanto Presidente, Obama não tem sido tão eficaz nos planos da mobilização e da persuasão como foi enquanto candidato. Será que a magia está a desaparecer? Jonathan Alter, analista político na Newsweek e na NBC, autor do livro «The Promise», obra que aprecia ao detalhe o primeiro ano da Presidência Obama, aponta: «Obama confiou demasiado na capacidade de julgamento do povo americano. Nas eleições de 2008, os americanos acreditaram na sua mensagem e, de algum modo, ele pensou que, a partir daí, isso acontecer sempre. Mas as coisas não têm sido bem assim.»

Recuperação
Num tempo em que a memória é curta, tão intensas são as novidades diárias, Alter recorda o óbvio: «Obama tinha razões para confiar no julgamento dos americanos. Um homem que tem como primeiro nome Barack (que significa 'abençoado' para os muçulmanos), cujo nome do meio é Hussein, tal como um dos maiores inimigos da América nos últimos anos, e cujo apelido é incrivelmente parecia com... Osama, teve a 4 de Novembro de 2008 a prova de que os americanos não se assustaram com essas coisas. O risco de excesso de confiança era grande para quem conseguiu ultrapassar o problema de ter um nome destes.»

Obama terá, por isso, acreditado que essa enorme capacidade de julgamento revelada pelos americanos quando da sua eleição se prolongasse pelo seu mandato presidencial. Mas o tipo de problemas com que o 44.º Presidente dos EUA se tem confrontado não tem dado azo a contemplações por parte do eleitorado.

A demora na recuperação económica está a minar o espírito da «Obamania». Uma boa fatia dos apoiantes de Obama em Novembro de 2008 declara agora a sua «desilusão». Talvez ainda haja margem para retomar essa dinâmica vencedora, a tempo de assegurar a reeleição em 2012 – e até há sinais animadores, confirmados recentemente com o modo como uma boa parte da opinião pública aplaude a forma como Obama enfrenta os «grandes interesses» na Reforma do Sistema Financeiro, que estará muito perto de ser aprovada no Congresso.

Continuaremos a análise sobre o primeiro ano e meio de Presidência Obama no próximo texto, olhando para as principais vitórias e os principais fracassos das suas decisões.»